domingo, 4 de setembro de 2011

O RITO REAA É VERMELHO, NÃO AZUL

A COR PÚRPURA DO
RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO

AVENTAIS E TEMPLOS SÃO VERMELHOS

A cor púrpura, principal do Rito Escocês Antigo e Aceito, é uma decorrência de suas origens mais remotas, no século XVII, na França, e da aristocratização que lhe foi imposta, a partir do segundo quartel do século XVIII, também na França.

Na realidade, os primeiros agrupamentos maçônicos de feição moderna - dos maçons Aceitos - na França, surgiram na esteira do séquito dos Stuarts, a partir de 1649, quando Henriqueta de França, viúva do rei stuartista inglês Carlos I, que fora preso e decapitado após a vitória da revolução puritana de Oliver Crommwell, aceitava, do Rei-Sol, Luis XIV, asilo no castelo de Saint-Germain-en-Laye.

Haveria um sensível aumento desses agrupamentos, a partir de 1688, quando da segunda queda dos Stuarts, com Jaime II, depois da restauração de 1660; nessa segunda queda, novamente, o asilo político seria em Saint-Germain, concedido pelo mesmo Luís XIV. Os Stuarts, que, a partir do século XIV, com Alan Fitzflaald, haviam ocupado os tronos da Escócia e da Inglaterra, eram reis católicos e os seus seguidores, os jacobitas, eram chamados de “escoceses”, por sua feição partidária stuartista e não pela sua origem nacional.


Já com um grande contingente maçônico desse sistema “escocês”, na França, um cavalheiro escocês, André Michel de Ramsay, que havia sido corrido da Escócia, por querer implantar graus cavalheirescos na Maçonaria, produziu um discurso, em 1737, onde ele pretendia demonstrar o seu agradecimento, por ter passado de plebeu a nobre, depois de se tornar cavaleiro da Ordem de S. Lázaro. E nesse discurso (que não lhe foi possível pronunciar, por proibição do cardeal Fleury, mas que foi publicado no ano seguinte), ele procura ligar as origens da Franco-Maçonaria aos reis e príncipes das Cruzadas.

A partir de 1758, quando foi fundado, em Paris, o Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente, ou Soberana Loja Escocesa de S. João de Jerusalém. A partir desse momento, o sistema se tornava aristocratizado ( como Rito de Heredom) ganhando a América do Norte, onde teria a sua roupagem definitiva , a partir de 31 de maio de 1801, com a fundação, em Charleston (por onde passa o paralelo 33 da Terra) na Carolina do Sul, do primeiro Supremo Conselho do Rito Escocês dos Maçons Antigos e Aceitos.


O que importa considerar, nesse apanhado bastante superficial dos primórdios do Rito, são os dois dados principais:

1. o Rito nasceu no catolicismo.
2. o Rito foi aristocratizado.

O catolicismo possui cinco cores litúrgicas: branca, negra, verde, roxa e vermelha. Destas, a mais importante é a VERMELHA, que é a cor do sangue e o símbolo da efusão do sangue por amor; por isso é a cor dos mártires da Igreja, usada durante as celebrações em homenagem a esses mártires. Além disso, ela é a cor que distingue a alta dignidade cardinalícia; os cardeais, que, na hierarquia mundana, correspondem aos príncipes, usam o chapéu (ou solidéo) vermelho e a faixa vermelha, como sinal de sua distinção.


E a cor da nobreza, da realeza, também é a vermelha. Todos os antigos reinantes, ao assumir o trono, recebiam, sobre os ombros, um manto vermelho; famosa é a púrpura imperial, com que os imperadores romanos ( os Césares)  eram revestidos, quando de sua ascensão ao trono imperial. A própria púrpura cardinalícia, já referida, é um sinal de nobreza dos príncipes da Igreja.


Estabelecida a origem da cor vermelha no Rito Escocês Antigo e Aceito, podemos, então, lançar os olhos sobre as instruções e resoluções do rito, antigas e modernas:

Havendo necessidade, na segunda metade do século XIX, de tomar algumas medidas que tornassem consensual a prática do Rito Escocês Antigo e Aceito, inclusive no que se referia à cor do rito e aos aventais, embora estes, em todas as instruções anteriores, fossem orlados de vermelho, realizou-se em Lausanne, em 1875, um Congresso de Supremos Conselhos, que, em relação, especificamente, ao tema em pauta, resolveu:

1. O avental terá dimensão variável de 30/35 cm. por 40/45 cm. ;
2. O avental do Aprendiz Maçom é branco, de pele de carneiro, com abeta triangular levantada e sem nenhum enfeite;
3. O avental do Companheiro Maçom é branco, com a abeta triangular abaixada, podendo ter uma orla vermelha;
4. O avental do Mestre Maçom é branco, com a abeta triangular abaixada, orlado e forrado de vermelho, tendo, no meio, também em vermelho, as letras M e B;
5. O avental é o símbolo do trabalho e lembra, ao obreiro, que ele deve ter uma vida laboriosa;
6. A cor do Rito Escocês Antigo e Aceito é a vermelha.




Alguns autores questionam as resoluções de Lausanne, porque este Congresso reuniu poucos participantes. Ora, como em qualquer sociedade, os ausentes, que deixam de atender ao chamamento, devem aceitar o que os presentes decidirem.

Mas, alem disso, aí estão rituais e instruções anteriores e posteriores à Convenção de Lausanne, mostrando qual é, na realidade a cor do Rito. Para ficar só nos nacionais, podemos citar os seguintes trechos, de publicações anteriores a 1875:

“As paredes do templo, cortinas, mesas, docel, etc., são forradas de encarnado no rito escossês e de azul nos ritos moderno e adoniramita; nestes dos últimos, os galões e franjas dos paramentos devem ser de prata ou de fazenda de cor branca, e no primeiro, de ouro” (Guia dos Maçons Escossezes, ou Reguladores dos Tres Graus Simbolicos do Rito Antigo e Aceito, do Grande Oriente Brazileiro - Rio de Janeiro - 1834 - página 46).

“Grau 3º. - Fita azul orlada de escarlate a tiracollo da esquerda para a direita, suspensa em baixo a jóia, que é um esquadro e um compasso de ouro entrelaçados. A jóia pode ser cravejada de pedras. Avental branco de pele forrado e orlado de escarlate, com uma algibeira abaixo da abeta, sobre a qual estão bordadas as letras M.: B.:” (no mesmo Guia dos Maçons Escossezes, capítulo referente a insígnias e jóias - página 49).

“O encarnado é o característico do escossismo” (Regulador Geral do Rito Escossez Antigo e Aceito para o Império do Brasil - Rio de Janeiro - 1857 - pág. 46).

O mesmo regulador, na mesma página, para estabelecer as diferenças com os outros dois ritos então praticados no país, Moderno e Adoniramita, destaca que, para esses ritos “o azul é o característico, razão porque são estes dos ritos chamados azues”. “A Loja é decorada com estofo ou tapeçaria encarnada” (Manual Maçônico ou Cobridor dos Ritos Escossez Antigo e Aceito e Francez ou Moderno - 4a. ed. - Rio de Janeiro - 1875 - pág. 1).

“No Oriente há um docel de estofo encarnado com franjas de ouro” (no mesmo Manual Maçônico - pág. 2). “Avental branco, forrado e orlado de encarnado, com uma algibeira por baixo da abeta. No meio do avental estão pintadas ou bordadas em encarnado as letras M.: B.: (no mesmo Manual Maçônico - pág. 11).

Como se pode ver, portanto, o Congresso de Lausanne não fixou novas regras; ele, apenas, regulamentou os costumes já vigentes, desde os primórdios do rito.

Posterior a 1875, pode-se citar, pelo menos, uma publicação brasileira, que confirma a resolução de Lausanne:

“Fita azul, orlada de escarlate, a tiracollo da esquerda para a direita, suspensa em baixo a jóia, que é um compasso e um esquadro de ouro entrelaçados. Avental branco de pele, forrado e orlado de escarlate com uma algibeira abaixo da abeta, sobre a qual estão bordadas as letras M.: B.: (Regulamento Geral da Ordem Maçônica no Brasil - Rio de Janeiro - 1902 - pag. 165, no capítulo que trata das insígnias e jóias do REAA).

No caso específico do Brasil, o que se vê, hoje, dia, é a fuga às tradições e às origens do Rito Escocês, com a padronização de todos os paramentos de acordo com o Rito de York ( emulação). Sim, pois aventais de orla azul, com roseta e de orla azul, com bolinhas de prata e níveis de metal para o Venerável Mestre são paramentos do Rito de York (Emulation)! Como isso surgiu, já foi exaustivamente explicado, em outras ocasiões.

E a coisa chegou ao ponto de gerar situações absurdas, para não dizer ridículas, como a que me foi narrada por um querido amigo de Brasília: um candidato, funcionário do Ministério do Trabalho, foi iniciado e, logo depois, teve que cumprir missão na Itália, onde deveria permanecer, pelo menos, um ano, o que fez com que sua Loja autorizasse suas elevações em uma co-irmã italiana, também do Rito Escocês.

Pois bem, cerca de dois anos depois, o obreiro retornou, já colado no grau de Mestre e com o seu avental de orla vermelha; com ele se apresentou em reunião de sua Loja e foi impedido de ingressar. Ou seja:

O único que estava com paramentos escoceses corretos, foi impedido de ingressar em Loja escocesa, por um bando de obreiros com paramentos do Rito de York!

E mais dois casos podem ser citados, não absurdos como o primeiro, mas esclarecedores. O primeiro: fazendo palestra em Santana do Livramento (RS), na fronteira com o Uruguai, em 1989, constatei a presença ( e chamei a atenção para isso) de diversos obreiros de Rivera, da Grande Loja do Uruguai, com seus paramentos de orla vermelha.

O segundo: falando em Londrina (PR), em 1991, em sessão não litúrgica (sem paramentos), sobre a cor dos aventais e templos escoceses, fui interrompido por um Irmão do Equador, recém chegado, o qual me perguntava, diante disso, qual era a cor usada no Brasil, no Rito Escocês; quando lhe disse que era a azul, ele reagiu com um riso de mofa, que valeu por mil palavras, e, puxando uma maleta, de lá tirou (e mostrou) o seu avental de orla vermelha.

Apesar de todos esses rituais já terem sido mostrados e publicados diversas vezes, sempre existem os que não pesquisam, não estudam, não procuram, mas “acham”. Apenas “acham” que a cor do rito deve ser a azul e ainda inventam que a cor vermelha foi uma criação brasileira do século passado, atribuindo-a a Cairu (Henrique Valladares), que só pontificou na Maçonaria nacional no fim do século XIX, muito depois dos rituais de 1834, 1857 e 1875. Para esses, nada melhor do que “matar a cobra e mostrar o pau”, pois, em termos de rituais ESTRANGEIROS, podem ser citados vários:

1. Ritual do Grau de Mestre Maçom, editado em 1912, em Lisboa, pelo Grande Oriente Lusitano Unido e pelo Supremo Conselho da Maçonaria Portuguesa, ambos reconhecidos mundialmente, na época. Nesse ritual, à página 10, pode-se ler:

INSÍGNIAS - 1o. - Avental branco orlado de carmezim, tendo bordadas no meio as letras M.: B.:, também da mesma côr. --- 2o. - Banda de “moiré” azul orlada de carmezim, lançada do ombro direito para o flanco esquerdo, tendo na parte inferior uma roseta vermelha, da qual pende a jóia formada por um compasso aberto 45 graus, cruzado com um esquadro. A jóia também pode ser um triplo triângulo coroado.

Além disso, Oliveira Marques, um dos maiores historiadores da Maçonaria, não só de Portugal, como de toda a Europa, publicou, em 1986, uma obra intitulada “Figurinos Maçônicos Oitocentistas – um guia de 1841-1841”, com base em guias maçônicas encontradas no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, junto com um texto de um decreto regulamentar de 15 artigos, com a chancela do Supremo Conselho de Portugal, datado do “25º dia da lua de Sivan, do ano da Grande Luz de 5842” (25 de maio de 1842). A obra, que mostra os paramentos dos 33 graus, com as roupas da moda, na época, exibe, no desenho correspondente ao grau de Mestre, o avental de orla vermelha, com as letras M e B.

2. Ritual do Grau de Aprendiz Maçom do REAA (não do Retificado), editado em 1971, pela Grande Loja Nacional Francesa, que é a única Obediência francesa reconhecida em todo o mundo, inclusive, pela G.L.Unida da Inglaterra e pelas Grandes Lojas norte-americanas. Nesse ritual, impresso à rua Christine de Pisan, 12, em Paris, pode-se ler, á página 1(Decoration de la Loge) o seguinte:

“La tenture des parois doit être en principe rouge”. O que significa:
A tapeçaria (estofo, forro) das paredes deve ser principalmente vermelha”.


Mais adiante, na mesma página, quando aborda o trono e o altar, o ritual especifica:
“Au-dessus du trône est un dais rouge avec franges en or”. O que significa:
“Acima do trono há um dossel vermelho com franjas douradas.

3. A Grande Loja do Chile, em seus Cuadernos Docentes, Primer Grado, edição de 1992, às páginas 50 e 51, do capítulo “El Mandil”, afirma:

“El mandil de piel blanca debe tener um ancho de 35 a 40 centimetros, por 30 a 35 de altura, unido a una cinta también blanca, en el primer grado. Una orla de cinta roja de 3 a 4 centimetros da al mandil de 2º grado el significado del celo y constancia com que el masón prosiegue la senda de su perfeccionamento; y la misma orla y cinta roja con las iniciales M.B., constituirá el de Maestro”.

Ou seja:
“O avental de pele branca deve ter uma largura de 35 a 40 cm., por 30 a 35 de altura, unido a uma cinta também branca, no primeiro grau. Uma orla de fita vermelha de 3 a 4 cm dá, ao avental do 2º grau, o significado do zelo e constância com que o maçom prossegue no caminho do seu aperfeiçoamento; e a mesma orla de fita vermelha, com as iniciais M.B., constituirá o do Mestre”.

Nota-se, que, para essa Grande Loja, como para algumas outras, até o avental de Companheiro tem a orla vermelha. O Ir.: Léon Zeldiz, atual Sob.: Gr.: Com.: do Supremo Conselho do REAA do Estado de Israel, sabe disso, porque foi iniciado no Chile. E, em carta a mim, na minha qualidade de Grande Representante (Garante de Amizade) da Grande Loja do Estado de Israel, dizia que concordava comigo, inteiramente, que a cor do REAA é a vermelha.

E me explicava que a situação de Israel era sui-generis, porque, criada pela G.: L.: Unida da Inglaterra e trabalhando só no rito azul de York, foi um custo fazer ela aceitar as três Lojas do REAA; se fosse colocada também a cor vermelha, seria provocar demais, já que a GLUI não aceita o REAA. Então, em Israel, como no Brasil, o rito ficou azulado. Só que lá foi por questão de sobrevivência. E aqui?

4. A Grande Loja da Venezuela, em seu ritual do grau de Aprendiz do REAA, 15a. edição – 1978 (lá não se muda o ritual “n” vezes, como aqui), afirma, à página 5, em Decoracion de la Logia:

“Paredes tapizadas, colgadas o pintadas de rojo. (...) Al Este hay un dosel de cualquier genero encarnado com flecos de oro; debajo, el trono donde se coloca el Presidente; delante del trono un altar en que se pone una escuadra, un compás, la Constitción masónica, una Biblia, una espada”

Ou seja: “Paredes atapetadas, forradas, ou pintadas de vermelho. (...) No Oriente há um dossel ,de qualquer gênero, vermelho, com franjas douradas; sob ele, o trono, onde se coloca o presidente; diante do trono um altar com um esquadro, um compasso, a Constituição maçônica, a Bíblia e uma espada”.

5. E, para finalizar, outra instrução européia, em obra aprovada pelo Supremo Consiglio del 33.: per l’Italia, reconhecido pelos demais Supremos Conselhos do mundo. Trata-se do livro “GLI EMBLEMI ARALDICI DELLA MASSONERIA DI RITO SCOZZESE ANTICO ED ACCETTATO” (Os Emblemas Heráldicos da Maçonaria do Rito Escocês Antigo e Aceito), editado em 1988, por Convivio-Nardini Editore, de Firenze, e que traz o timbre do Supremo Conselho da Itália, para mostrar a procedência oficial. Pois, neste livro, sobre emblemas heráldicos dos 33 graus escoceses, há uma parte complementar que descreve os paramentos e jóias de cada grau. E, no de Mestre Maçom (Maestro Massone), há a seguinte descrição:

“Grembiale bianco foderato e orlato di rosso. Nel mezzo vi sono le lettere M.B. . Il gioiello è un triplice triangolo coronato, attaccato al Cordone bleu con una rosetta rossa”.

Ou seja: Avental branco forrado e orlado de vermelho. No centro estão as letras M.B. . A jóia é um tríplice triângulo coroado, atado ao Cordão azul por uma roseta vermelha”.


José Castellani

Um comentário:

  1. Muito obrigado pelos esclarecimentos, concordo plenamente. T.·.F.·.A.·. Pablo Ferreira.

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