Era uma vez um bando de ratos maçons que vivia no buraco do assoalho de uma casa velha.
Havia ratos maçons de todos os tipos: grandes e pequenos, pretos e brancos, velhos e jovens, fortes e fracos, da roça e da cidade.
Mas ninguém ligava para as diferenças, porque todos estavam irmanados em torno de um sonho comum: uma Potência Maçônica novinha, jovem, pujante, em franco desenvolvimento, crescendo a olhos vistos, bem pertinho dos seus narizes. Tomar posse dela seria a suprema felicidade... Bem pertinho é modo de dizer.
Na verdade, a Potência estava imensamente longe, porque entre ela e os ratos maçons estava um Delegado Gato... O delegado gato era zeloso, vigilante, dedicado, leal, tinha dentes afiados e não dormia nunca. Por vezes fingia dormir. Mas bastava que um rato dissimulado, se aventurasse para fora das regras e leis da maçonaria para que o gato desse um pulo e, era uma vez um falso rato maçom... Os ratos odiavam o gato.
Quanto mais o odiavam mais irmãos se sentiam. O ódio a um inimigo comum os tornava cúmplices de um mesmo desejo: queriam que o delegado gato morresse ou sonhavam com um cachorro maçom...
Como nada pudessem fazer, reuniram-se para conversar. Faziam discursos nas sessões onde não estava presente o delegado rato, reuniões extra templo, denunciavam o comportamento do delegado gato e do Grão Mestre da Potência (não se sabe bem para quem), e chegaram mesmo a montar gravações e escrever livros com a crítica filosófica dos delegados gatos e do Grão Mestre.
Diziam que um dia chegaria em que os delegados gatos seriam abolidos e todos seriam iguais. "Quando se estabelecer a ditadura dos ratos maçons", diziam os camundongos aprendizes, "então todos serão felizes"...
- A Potência é grande o bastante para todos, dizia um.
- Socializaremos a Potência, dizia outro.
Todos batiam palmas e cantavam as mesmas canções. Era comovente ver tanta fraternidade. Como seria bonito quando o delegado gato e o Grão Mestre morressem!
Sonhavam. Nos seus sonhos se viam em altos cargos, Grandes Dignidades, Grandes Oficias, Veneráveis, Vigilantes, um até se via como “O Grão Mestre”. E quanto mais eles se apossavam da Potência ( em sonho), mais ela crescia. Porque esta é uma das propriedades das potências sonhadas que são usurpadas: não diminuem: crescem sempre. E marchavam juntos, rabos entrelaçados, gritando: "A Potência, já!".
Sem que ninguém pudesse explicar como, o fato é que, ao acordarem, numa bela manhã, o delegado gato tinha sumido ( na verdade um dos ratos que liderava havia dado um jeito de afasta-lo de todos e de tudo). A Potência continuava lá, mais bela do que nunca. Bastaria dar umas poucas orientações, dar uma enganadinha aqui, uma mentirinha ali, oferecer uns cargos pra uns e o Cargo maior de Grão Mestre para outro.
Olharam cuidadosamente ao redor. Aquilo poderia ser um truque do delegado gato. Mas não era. O delegado gato havia desaparecido mesmo.
Chegara o dia glorioso, e dos ratos maçons surgiu um brando retumbante de alegria. Todos se lançaram sobre a Potência (representada pelo Grão Mestre), irmanados num faminto desejo comum.
E foi então que a transformação aconteceu. Bastou a primeira nomeação.
Compreenderam, repentinamente, que as Potências de Verdade são diferentes das potências sonhadas. Quando usurpadas, em vez de crescer, diminuem.
Assim, quanto maior o número dos ratos maçons a participar da traição ou do golpe para usurpar, menor o naco para cada um. Os ratos maçons começaram a olhar uns para os outros como se fossem inimigos.
Buscavam entre eles qual o cargo que cada um tinha ganhado, ou obtido para si. E os olhares se enfureceram. Arreganharam os dentes.
Esqueceram- se do delegado gato. Eram seus próprios inimigos. A briga começou. Os mais fortes expulsaram os mais fracos a dentadas.
E, ato contínuo começaram a brigar entre si. Alguns ameaçaram a chamar o delegado gato, alegando que só assim se restabeleceria a ordem.
O projeto de socialização da Jovem Potência foi aprovado nos seguintes termos:
"Qualquer cargo poderá ser tomado dos seus ocupantes para ser dado aos ratos maçons aprendizes e aos menos experientes, exclusivamente para massagear seus egos e conquistarmos mais adeptos vaidosos, desde que este cargo tenha sido abandonado pelo seu ocupante".
Mas como rato maçom algum jamais abandonou um cargo, os ratos magros aprendizes e os menos experientes estavam condenados a ficar esperando..
Os ratinhos aprendizes e menos experientes, de dentro do buraco escuro, não podiam compreender o que havia acontecido. O mais inexplicável era a transformação que se operara no focinho do rato maçom forte, agora dono da Potência. Tinha todo o jeito do delegado gato, e o que é pior, agora mostrava sua verdadeira face, virou Gato, o olhar malvado, os dentes à mostra.
Os ratos magros aprendizes e mais novos nem mais conseguiam perceber a diferença entre o delegado gato de antes (que tinha uma imagem ruim, pois o líder deles havia criado essa imagem para afasta-los do delegado gato), e os ratos maçons de agora. E compreenderam, então, que não havia diferença alguma. Ao contrário, piorou e muito. O delegado gato perto destes agora, era um anjo e eles não tinham enxergado isso.
Finalmente a verdade veio a tona, o sonho se foi, a realidade se fez presente e atordoados, sem rumo, entenderam que seus desejos e ideais foram manipulados, descobriram que foram enganados, foram traídos, foram usados e finalmente puderam perceber que;
Todo rato maçom que fica dono de Potência vira gato.
Não é por acidente que os nomes são tão parecidos.
(Rubens Alves)
Adaptado para a maçonaria por
Weber Varrasquim
Setembro de 2011
Como resolvem seus dilemas quando vossas regras comunais se conflitam com as regras civis e com a ordem pública? Tentam adaptar as leis sociais às regras comunitárias conferindo primazia à vossa organização privada?
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