quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

D. Pedro I - Irmão Guatimozin


No ano de 1821, funcionava no Rio de Janeiro, a Loja Maçônica Comércio e Artes, da qual eram membros vários homens ilustres ligados à corte, como os Maçons Cônego Januário da Cunha Barbosa, Joaquim Gonçalves Ledo e José Clemente Pereira entre outros.

É importante ressaltar que na metrópole, nas lojas “Comércio e Artes”, “Esperança de Niterói” e “União e Tranqüilidade”, nenhuma pessoa era iniciada, sem que fossem conhecidas suas opiniões sobre a Independência do Brasil. Ademais, todo neófito jurava não só defendê-la como também promovê-la.

José Castellani afirma:

“A obra máxima da Maçonaria brasileira e a única de que ela participou de fato, como Instituição, foi a Independência do Brasil, em 1822 no mesmo ano em que os Maçons brasileiros criavam a primeira Obediência nacional, o Grande Oriente Brasílico”.

É claro que caracteriza a ação maçônica nacional e sua afirmação não é excludente em identificar uma ação regionalizada desenvolvida por Maçons gaúchos e outros até de outra nacionalidade no episódio histórico conhecido como “Revolução Farroupilha”.

Quanto ao episódio da independência, há que compreender que a independência política do país não foi obra exclusiva dos Maçons, já que D. João VI ao elevar o Brasil à categoria de Reino Unido ao de Portugal e Algarves em 1815, separou de fato o Brasil de Portugal dando o primeiro e decisivo passo para a sua independência. Em 1821, extinguiu o reinado do Brasil e determinou o regresso de D. Pedro com toda a família real para Portugal.

A estreita comunicação entre D. Pedro e D. João VI, em cartas, demonstra que os fatos que transcorriam eram do conhecimento e concordância de D. João VI.

Iniciação de Dom Pedro

A iniciação de D. Pedro contribuiu fortemente para o processo de emancipação brasileira e isto interessava à Maçonaria como também interessava a D. Pedro estar apoiado pelos Maçons, já que formavam à época uma forte corrente política.

Após terem obtido a adesão dos irmãos de São Paulo, Minas Gerais e Bahia, aqueles maçons resolveram fazer um apelo a D. Pedro para que permanecesse no Brasil e que culminou, como se sabe, com a celebre frase:

“como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto, diga ao povo que fico”.

Entretanto, não parou ai os trabalhos dos maçons. Teve início, logo em seguida, um movimento coordenado entre os irmãos de outras províncias brasileiras objetivando promover a Independência do Brasil.

Em 09 de janeiro de 1822, o conhecido episódio do “Fico” teve a inspiração e liderança dos Maçons José Joaquim da Rocha e José Clemente Pereira. “O Príncipe Regente recebeu três documentos feitos sob inspiração e liderança maçônica rogando por sua permanência no Brasil em descumprimento dos Decretos nº 124 e 125 das Cortes Portuguesas.

O documento paulista foi redigido por José Bonifácio de Andrada e Silva, o documento dos fluminenses foi redigido pelo Frei Francisco de Santa Tereza de Jesus Sampaio, orador da Loja “Comércio e Artes” e o documento dos mineiros foi liderado por Pedro Dias Paes Leme. No Convento “da Ajuda, na cela do Frei Sampaio reuniam-se os líderes do movimento”.

Este fato pitoresco de Maçons, de reunirem-se em segredo num Convento tem conotação com as reuniões que hoje são realizadas nas Lojas Maçônicas, guardadas as devidas proporções.

Decidida a questão do “Fico”, acentua-se o processo de discussão e sob a liderança do Maçom Joaquim Gonçalves Ledo a Maçonaria decide, por proposta do brigadeiro Domingos Alves Branco Muniz Barreto, outorgar a D. Pedro o título de “Defensor Perpétuo do Brasil”.


Tão logo foi fundado o Grande Oriente Brasílico José Bonifácio de Andrada e Silva foi escolhido como Grão Mestre e Joaquim Gonçalves Ledo como Primeiro Grande Vigilante. Havia, no entanto uma luta ideológica entre os Grupos de Bonifácio e de Ledo.
José Bonifácio de Andrada e Silva

ATA DA INICIAÇÃO DE DOM PEDRO I NA MAÇONARIA

D. Pedro foi iniciado na Loja “Comércio e Artes” no dia 02 de agosto de 1822 adotando o nome histórico de Guatimozin. No dia 05 de agosto, ou seja, três dias depois se tornava Mestre Maçon.



     Antonio de Menezes Vasconcelos Drumond, voltando de missão maçônica nas províncias de Pernambuco e Bahia, no final de agosto de 1822 relata em suas “Memórias”:

“José Bonifácio havia também naquelle dia ou na véspera, recebido novas de Lisboa; e juntas estas com aquelas que eu trazia (da Bahia) julgava conveniente acabar com os paliativos e proclamar a independência. Fosse esta a causa isolada ou cumulativa com os seus desejos de ser a independência proclamada na sua província, o caso é que elle desde logo entendeu que se não devia adiar para mais tarde este ato. O príncipe já estava em S. Paulo e se a occasião não fosse aproveitada quem sabe se outra se poderia proporcionar tão cedo”.

O relato segue:

“… No Conselho decidiu-se proclamar a independência. Enquanto o Conselho trabalhava, já Paulo Bregaro estava na varanda prompto a partir em toda diligencia para levar os despachos ao príncipe regente. José Bonifácio ao sair lhe disse: – Se não arrebentar uma dúzia de cavalos no caminho, nunca mais será correio; veja que faz.”

Estes episódios da vida política brasileira envolveram além de Maçons outros cidadãos, lideranças conscientes de seu papel que buscaram pelo diálogo ou pelo combate a defesa de direitos fundamentais de liberdade. A motivação destes homens, organizada em Loja ou não sempre foi a de construir uma sociedade mais justa e mais igual. A têmpera de seu caráter como observamos foi forjada na prática de procedimentos maçônicos no exercício da Arte Real.

A autonomia política e econômica de uma Nação não se completa com um movimento independentista. É um processo longo que exige a participação de toda sua sociedade em muitas gerações.

Dezembro de 2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fico-lhe grato por sua participação no meu blog. Continue me ajudando. Obrigado