sábado, 19 de novembro de 2011

DESTRUIÇÃO DE JERUSALEM 70 DC - 2ª parte

Pouco antes da lua cheia da primavera de 70, Tito encontrava-se com um exército imenso diante de Jerusalém. Por todos os caminhos e estradas avançavam para a cidade colunas como a Judéia nunca vira. Eram a 5ª, a 10ª, a 12ª, e a 15ª legiões, seguidas da cavalaria, tropas de sapadores e tropas auxiliares, quase oitenta mil homens.

A cidade fervilhava de gente; peregrinos de toda parte acorreram para lá a fim de celebrar a festa da páscoa. Mas as preces eram interrompidas por choques entre os elementos extremos dos zelotes e o partido dos moderados; havia mortos e feridos nas ruas.

Enquanto isso, os romanos estabeleciam seus acampamentos nos arredores. Um ultimato para que se rendessem foi recebido com risos de escárnio. Tito replicou com ardem de assaltar. A artilharia romana – scorpiones (escorpiões: catapultas de tiro rápido) e balistas – foi disposta em ordem de ataque. Cada uma dessas máquinas arremessava pedras de cinqüenta quilos de peso a cento e oitenta e cinco metros de distância! No lado norte, os sapadores atacaram o calcanhar-de-aquiles do forte. 
Pedras do lado oeste do Templo da Montanha (Jerusalém) jogados na rua pelos soldados romanos ano 70DC.

Dos lados sul, leste e oeste, o baluarte era protegido por encostas escarpadas. O lado norte era, por essa razão, extraordinariamente bem protegido por três poderosas linhas de muralhas. Os aríetes e catapultas começaram com grande estrondo e alarido sua obra de destruição nos fundamentos Só quando as pesadas pedras começaram a cair incessante e estrepitosamente na cidade, quando soava de dia e de noite o ruído surdo dos aríetes, terminou a luta fratricida no forte. Os rivais fizeram as pazes. Dos chefes dos partidos Simão bar Giora, o moderado, recebeu o encargo de defender a frente norte, e João de Gischala, o zelote, o de defesa do recinto do templo e do Forte Antônia.

No princípio de maio, as máquinas de assédio haviam feito em duas semanas uma grande brecha no muro setentrional. Cinco dias depois, os romanos passaram também através da segunda linha de muros. Um contra-ataque resoluto deu de novo aos sitiados a posse do muro. Os romanos levaram dias para reconquistá-lo. E assim os arredores do norte ficaram definitivamente em poder dos romanos.


Convencido de que Jerusalém, diante dessa situação se renderia, Tito suspendeu o assalto. O grandioso espetáculo de uma grande parada de suas tropas à vista dos sitiados deveria, pensou ele, chamá-los à razão.

Os romanos tiraram seus trajes guerreiros, poliram o mais que puderam seus uniformes de parada. Os legionários puseram suas couraças, suas cotas de malha, seus elmos. A cavalaria enfeitou seus cavalos com gualdrapas ornadas e, ao som de trombetas, desfilaram dez mil combatentes diante de Tito, recebendo sob os olhos dos sitiados o soldo e alimento substancioso. Durante quatro dias ressoou de manhã cedo até o por-do-sol a marcha das colunas romanas acostumadas à vitória.

Em vão. Comprimidos em cima do velho muro, no lado norte do templo e em todos os telhados, os homens mostravam apenas hostilidade. Demonstração inútil... os sitiados não pensavam em rendição.

Tito fez uma última tentativa para induzi-los a mudarem de pensamento. Mandou o prisioneiro Flávio Josefo, que fora o general-chefe, judeu de Galiléia, até junto dos muros da fortaleza.

A voz de Josefo subiu clara até onde eles estavam:

“Ó homens duros de coração, abandonai vossas armas, tende compaixão de vossa terra, que ameaça cair no abismo. Olhai ao redor e vede a beleza do que quereis atraiçoar. Que cidade! Que templo! Que presentes e inumeráveis nações! Quem se atreveria a entregar tudo isso à destruição das chamas! Existirá alguém capaz de desejar que tudo isso deixe de existir? Haverá coisa mais preciosa para conservar?... Ó criaturas duras, mais insensíveis do que pedras!”

Com palavras, comoventes, Josefo lembrou-lhes os grandes feitos do passado, os patriarcas, a história, a missão de Israel Em vão.... Suas exortações e súplicas caíram em ouvidos moucos.

A luta foi renovada, partindo da segunda muralha, dirigida contra o Forte Antônia. Através das ruas do arrabalde, a frente foi avançando para o recinto do templo e a cidade alta. Os sapadores construíram rampas de assalto com madeira que as tropas auxiliares iam buscar nos arredores. Os romanos serviam-se de todos os meios comprovados da técnica de assédio.

Os trabalhos preparatórios sofriam continuamente danos consideráveis, causados pela incansáveis tentativas dos sitiados para destruí-los. Além de desesperadas surtidas, os baluartes de madeira, apenas terminados, eram de novo presa das chamas. Com o cair da noite, os arredores do acampamento formigavam de vultos que surgiam de esconderijos e passagens subterrâneas ou se arrastavam por cima dos muros.

Tito ordenou represálias contra os esfomeados e os trânsfugas que surgissem no acampamento. Quem quer que fosse apanhado fora dos muros – trânsfuga, vagabundo ou forrageador – seria pregado na cruz.


Diariamente os soldados pregavam na cruz quinhentos deles junto da cidade. Pouco a pouco foi surgindo em volta, nas encostas da colina, uma verdadeira floresta de cruzes, até que a falta de madeira obrigou a suspender o horripilante suplício.

Uma após outra as árvores foram caindo para a confecção de cruzes, rampas de assédio, escadas de assalto ou fogueiras no acampamento. Quando os romanos chegaram, encontraram uma região florescente. Algum tempo depois, haviam desaparecido as vinhas, as plantações de hortaliças, a riqueza em figueiras e oliveiras; nem o monte das Oliveiras dava mais sombra. Através da região desolada e nua pairava um fedor insuportável. Junto das muralhas amontoavam-se aos milhares os cadáveres dos que tinham morrido de fome e dos guerreiros caídos em combate, jogados dos parapeitos pelos sitiados. Quem poderia sepultá-los segundo o costume antigo?

“Nenhum estrangeiro que tivesse visto a antiga Judéia e os encantamentos arrabaldes de sua capital e visse agora aquela desolação poderia conter as lágrimas e a aflição diante de modificação tão espantosa”, lamentou Flávio Josefo. “Pois a guerra havia transformado toda aquela beleza num deserto. E quem quer que tivesse visto antes esses lugares e de repente os tornasse a ver não seria capaz de os reconhecer sequer.”

por José Cantos L. Filho.

Continua na proxima postagem....
20-11-2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fico-lhe grato por sua participação no meu blog. Continue me ajudando. Obrigado