Perseverar no
cumprimento de seu dever e guardar silêncio
é a melhor resposta à calúnia."
(George Washington)
A Calúnia e a Fofoca - Roque Theophilo
Calúnia é um termo que vem do latim, calumnia, engodo, embuste. A calúnia não se confunde nem com a difamação nem com a injúria, outros dois crimes contra a honra. A difamação (do latim diffamare) significa desacreditar, sendo um crime que consiste em atribuir a alguém fato ofensivo à sua reputação de pessoa fiel à moralidade e aos bons costumes. Não se confunde com a calúnia, pois esta consiste numa imputação injusta de fato tipificado como crime. Na difamação o que se busca é desacreditar a vítima, embora sem apontá-la como autora de fato criminoso. (...)
Quanto à injúria do
latim injuria, de in jus, injustiça, falsidade, trata-se de um crime contra a
honra consistente em ofender, verbalmente, por escrito, ou fisicamente (injúria
real), a dignidade ou o decoro de alguém. A injúria ofende o moral, abate o
ânimo da vítima, ao passo que a calúnia e a difamação ferem a moral da vítima.
(...)
Fofoca é o mexerico, intriga, a bisbilhotice. É um mal que para muitos é
divertimento sem importância, mas que é extremamente destrutivo: A vontade de
passar informações faz parte do homem, é a comunicação, é uma ação humana
natural e normal, mas na maioria das vezes esquecemos
do outro e não medimos as conseqüências das nossas palavras. Quando uma pessoa
não controla a cobiça, o resultado é a inveja, que desperta o instinto animal
de prejudicar o próximo pela difamação. O vaidoso que é
infestado pelo orgulho e pela arrogância, é muito propenso a usar a fofoca. (...)
Afirmativas como “onde há fumaça há
fogo”, em verdade são armas utilizadas pelos caluniadores. O correto é: “onde há fumaça há um caluniador”. Para bom entendedor, quem está
sendo exposto não é o caluniado, mas sim o caluniador: revela-se e desvenda um interior conflitado.
O caluniador é uma pessoa que está
sempre em conflito consigo mesmo. Quem está de bem
com a vida não tem sequer vontade de caluniar, quer apreciar as coisas boas da
vida.
Por vezes, as pessoas lidam de forma
inadequada com suas perturbações. Por exemplo, passam a ingerir muita bebida de
álcool, ou mergulham num mundo imaginário e se afastam da vida real. Outra
forma inadequada é a calúnia. O caluniador procura transferir seu desequilíbrio
para outra pessoa. Lançando uma calúnia ele percebe que o interior da pessoa
atingida começa a se desorganizar. Para que isso ocorra, a calúnia deve ser
impactante, deve penetrar no interior da vítima e estourar como uma bomba.
Portanto, agora quem está desequilibrado é o outro e não mais ele. Ou há mais
alguém perturbado e em sofrimento como ele.
Como este artifício
é fantasioso, não promove um alívio duradouro ao caluniador, como um vício ele
sente necessidade de repetir e repetir o ato de caluniar. É uma falsa saída
para seu desequilíbrio. É como se alguém pegasse o lixo de sua casa e jogasse
no pátio do vizinho. Por alguns momentos tem a sensação de estar limpo. Mas o
lixo reaparece na sua casa, pois ela é o gerador de lixo.
Existem dois tipos
de caluniadores: aquele que calúnia sistematicamente e aquele que o faz num momento em
que sua vida não vai bem.
E existem também as pessoas que levam
adiante a calúnia gerada por outro. É um fenômeno que acompanha a humanidade
desde sempre. Um dramaturgo romano, Plauto, escreve em uma de suas peças: “Os que propalam a calúnia e os que a escutam, se prevalecesse minha
opinião, deveriam ser enforcados, os primeiros pela língua e os outros pela
orelha”.
Temos que aprender a lidar com estes
fenômenos. Todos estamos sujeitos a ele. Sheakespeare escreveu: “Mesmo que sejas tão puro quanto a neve, não escaparás à calúnia”.(...)
Aquele que se percebe gerando calúnia
se beneficiará de uma ajuda profissional para procurar lidar de uma maneira
mais eficaz com seus desequilíbrios.
Provavelmente,
graças a esse poder contaminante do pensamento primário é que, muitas vezes,
julgamos uma causa por sua aparência, brigamos com amigos por detalhes fúteis e
esquecemos o imprescindível para guardar o periférico. (...)
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Outubro de 2013
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