terça-feira, 25 de setembro de 2012

POR QUE OS MAÇONS NÃO LÊEM




Kurt Prober

“Não é afirmação jocosa quando observo que VOCÊ, que está lendo estas linhas, é na verdade um dos poucos componentes deste grupo minoritário de leitores maçônicos”.

A Comissão de Educação Maçônica da Grande Loja de Missouri (EUA) recentemente publicou um brilhante artigo a este respeito, de autoria do Irmão Earl K. Dille Jr., e usando de alguns trechos das conclusões a que ele chegou, irei tecer um breve comentário sobre o que acontece no nosso ambiente maçônico.

A simples existência deste estudo prova que o mal não é somente nosso, mas sim Universal, embora entre nós muito agravado. Costumam afirmar que a Arte Real não precisa de divulgação escrita, por ser ela uma agremiação tradicional onde tudo é comunicado “oralmente”. E todos aqueles que já se dedicaram jornalisticamente à feitura de um jornal maçônico, ou que, como escritores ou historiadores, já tentaram editar ou mesmo conseguiram fazê-lo, um livro maçônico, podem sumariamente provar o fato: “O MAÇOM NÃO GOSTA DE LER” seja por falta de interesse, entusiasmo, motivação íntima, ou sejapor simples preguiça.

Se recebe um jornal ou boletim, geralmente distribuído graciosamente por Lojas ou Potências, para início de conversa esquece a sua obrigação mais elementar de profano, “a de acusar o recebimento”. Muito contrário, ainda reclama quando lh’o mandam.

Mas, quando o recebe, mal passa os olhos pelos cabeçalho, se é que algo lhe merece atenção NÃO O GUARDA e nem dá a algum irmão eventualmente mais interessado. E quando alguém lhe fala de um determinado artigo, muitas vezes até sem tê-lo lido, “mete a lenha” ou faz uma alusão desairosa sobre o autor, especialmente quando não é do seu “partido fofoqueiro maçônico”. Normalmente arquiva o boletim na “CESTA-seção...”

E o famoso artigo “POR FAVOR, NO LIXO, NÃO...!” , publicado pelo esforçado “ADAUTO” no “O CINZEL” nº 104/106, em março de 1976 (protesto veemente do redator do O CINZEL – Órgão da Loja REALIDADE n.º 21, de Recife) é um documento mais do que convincente deste estado de coisas.

Calcula o autor americano que menos de 10% dos maçons americanos “passam os olhos em tais publicações”, dizendo os editores de livros maçônicos que menos de 5% COMPRAM UM LIVRO. Mas se isto acontece num país altamente alfabetizado, o que diremos nós do BRASIL?

Ao ser iniciado, elevado ou exaltado no simbolismo e a seguir no filosofismo, cada maçom recebe UM EXEMPLAR do rito de cada grau, e um Regimento Geral. Pois bem, sendo eu possuidor da maior Biblioteca Maçônica do Brasil, tenho me perguntado a milhares de Irmãos de tudo quanto é rito e potência, e RARO é aquele que, mesmo sendo Grau 33 me pode mostrar (ou emprestar para tirar um xerox) dos rituais de sua época, ou das Constituições que recebeu. Praticamente nenhum Irmão, de Lojas que durante anos imprimiram Boletim ou Jornais, me pôde mostrar algum e muito menos ALGUNS números dos mesmo, e a maioria das Lojas que os imprimiram não possuem uma coleção completa, única que seja.

Não quero aqui citar os nomes de pelos menos 10 Lojas às quais escrevi perguntando, para não envergonhar ninguém. ARLS ORVALHO DE HERMON Basta só citar o BOLETIM DO GRANDE ORIENTE DO BRASIL, editado continuamente de 1871 até 1976, com poucas interrupções, perfazendo um total de digamos 800 números. Creio que só existe UM ÚNICO CONJUNTO COMPLETO, que é o da minha biblioteca, e nem o GOB possui uma coleção completa, faltando-lhe, creio, quase 8 anos.

Se eu afirmasse categoricamente que nem 5% dos nossos Irmãos Iniciados e que hoje possuem altos graus, jamais passaram os olhos nesses rituais e constituições, provavelmente seria taxado de exagerado. Entretanto, na verdade eu estaria, assim mesmo “mentindo descaradamente”, pois raros são os que jamais abriram estes livrinhos... e raríssimos são os que os guardaram carinhosamente.

Faça-se em qualquer Loja de mais de 15 anos de existência a experiência, mandem trazer os rituais de todos graus que possuem, pelos Irmãos antigos, e terão confirmado o que acabo de afirmar. Portanto, não é a firmação jocosa quando observo que VOCÊ, que está lendo estas linhas, é na verdade um dos poucos componentes deste grupo minoritário de leitores maçônicos.

Existem no mundo muitas Lojas de Estudos; ARS QUATOR CORONATI da Inglaterra e da Alemanha, a Sociedade “PHILALETES” dos Estados Unidos, o Centro de Estudos Maçônicos de Jandaia do Sul, etc., que editam livros e boletins, mas os seus membros e assinantes, evidentemente “contribuintes”, são em número tão reduzidos que seria ridículo aqui citar números, para a Maçonaria não morrer de vergonha.

O iniciando, olhando respeitosamente os membros antigos das Lojas, especialmente os que fazer questão de “enfeitar o Oriente”, ou os componentes da nossa honorável Fraternidade, de um modo geral os imagina bem ilustrados e informados, mas na realidade, em 99% dos casos, está redondamente enganado. Se mostra o desejo de estudar e aprender alguma coisa, especialmente quando possui um grau de cultura mais elevado, é sumariamente freado e até ridicularizado com o velho chavão: Ainda é muito cedo para você ficar sabendo isto, porque isto irá aprendendo com o tempo, quando for mestre...”

Na hora, o novato ainda reverencia “tamanha cultura demonstrada”, e quando o tempo passa e ninguém lhe ensina coisa alguma, então se desencanta, e quando exaltado a mestre, começa a se afastar e vai faltando ao convívio daqueles que tão vilmente o enganaram. Com vaidade quase pessoal, os mais vivos citam bombasticamente, e em tudo quanto é ocasião, os nomes de grandes maçons do passado: Cônego Barbosa, Lêdo, Nabuco, Rui, Macedo Soares, Saldanha Marinho, George Washington, Franklin, Goethe, Monroe, etc., mas esquecem que estes maçons se tornaram GRANDES, de fato, por que estudaram e leram tudo quanto aparecia de impresso, escreveram e publicaram livros, e assim foram ensinando os seus irmãos contemporâneos e atuais, o que a maioria de nós NÃO FAZ e não está disposta a fazer.

Para que se tornaram maçons, então? Se não estão dispostos a “desbastar a pedra bruta”, nem a sua própria e nem a dos aprendizes, ainda se dispõem a aprenderem alguma coisa? Será que nos tornamos maçons pelo simples desejo de pertencer ao “sindicato”? A verdade é que a grande maioria só quer mesmo é bater no peito e “apregoar”, ou então “sussurrar” ao ouvido dos outros SOU MAÇOM!...

Setembro de 2012

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terça-feira, 11 de setembro de 2012

Quando os maçons tornam-se desnecessários.



Uma das situações, talvez a mais dolorosa para um homem, é quando ele se conscientiza de que é totalmente desnecessário, seja no ambiente familiar, no trabalho, na comunidade ou, principalmente, para nós maçons, na nossa Instituição.
Os maçons tornam-se desnecessários:
1) - Quando decorrido algum tempo de sua Iniciação ao primeiro grau da Ordem, já demonstram desinteresse pelas sessões, faltando constantemente, e mesmo estando presentes demonstram não estarem comprometidos com a sua loja, potencia e a Instituição, apesar de terem aceitado a Iniciação e terem JURADO SOLENEMENTE.
2) - Quando, durante as sessões, já "enturmados", ficam impacientes com as instruções, com as palestras ou com as palavras dos Irmãos mais velhos, achando tudo uma chatice, uma bobagem que atrasa o ágape e a esticada noturna ao BAR.
3) - Quando, ao tempo da apresentação de trabalho para aumento de salário, não têm a mínima idéia dos assuntos dentre os quais podem escolher os seus temas. Simplesmente copiam alguma coisa de um livro ou da Internet e apresentam-no, pensando que ninguém vai notar.
4) - Quando, ainda companheiros, começam a participar de grupos para ajudar a eleger o novo Venerável e, não raro, já pensando seriamente em, assim que chegarem a Mestres, começarem a trabalhar para obter o "poder" na Loja.
5) - Quando já como Mestres, recusam-se a admitir que sabem quase nada a respeito da sua própria loja, potência e da Ordem Maçônica . Acham que estudar e comparecer ao máximo de sessões do ano é coisa para os que aceitaram fazer parte da administração, para os companheiros e os aprendizes.
6) - Quando Mestres, ao participarem das eleições como candidatos a Venerável, e não forem eleitos, ou não forem escolhidos para algum cargo, sumirem ou filiarem-se a outra Loja onde poderão ter a "honra" de serem cingidos com o avental de M.: I .:, que consideram ser " muito mais vistoso do que o de um "simples" Mestre ".
7) - Quando já Mestres e até participando dos Altos Graus (filosóficos) não terem entendido ainda que o essencial para o verdadeiro maçom é o seu crescimento espiritual, a sua regeneração, a sua vitória sobre a vaidade e os vícios, a aceitação da humildade e o bem que possam fazer aos seus semelhantes, e que, a “ política interna da Loja , a proteção mútua, principalmente na parte material, também tem lá seu valor, mas não é a ESSÊNCIA para o verdadeiro MAÇOM.”
8) - Quando, como Aprendiz, Companheiro ou Mestre, ainda não entenderem que a Loja necessita que suas mensalidades estejam rigorosamente em dia, para que possam enfrentar às despesas que são inevitáveis.
9) - Quando, como Veneráveis Mestres, deixam o caos se abater sobre a Loja, não sendo firmes o suficiente para exercer sua autoridade; não tendo um calendário com programação pré-definida para um período; não cobrando de seus auxiliares a consecução das tarefas a eles determinadas, e não se importando com a educação maçônica, que é primordial para o aperfeiçoamento dos obreiros.
10) - Quando, como Vigilantes, não entenderem que, juntamente com o Venerável Mestre, devem constituir uma unidade de pensamento, pois em todas as Lojas nas quais um ou os dois Vigilantes não se entendem entre si e principalmente não se entendem com o Venerável, o resultado da gestão é catastrófico.
11) - Quando, como Guarda da Lei ( Orador ) , nada sabem das leis e regulamentos da Potência e de sua própria Loja, da Maçonaria Universal e usam o cargo apenas para discursos ocos e intermináveis.
12) - Quando, como Secretários, sonegam à Loja as informações dos boletins, de informativos e informações da potência, as correspondências dos Ministérios e, principalmente, os materiais do departamento de cultura, que visam dotar as Lojas de instruções e conhecimentos que normalmente não constam dos rituais, e são importantes para a formação do maçom.
13) - Quando, como Tesoureiros, não se mostram diligentes com os metais da Loja, não se esforçam para manter as mensalidades dos Irmãos em dia e não se importam com os relatórios obrigatórios e as prestações de contas.
14) - Quando, como Hospitaleiros, não estão atentos aos problemas de saúde e dificuldades físicas ,financeiras , ou sociais , dos Irmãos da Loja.
15) - Quando constatamos que em grande número de Lojas, com uma freqüência média de vinte Irmãos, se recolhe um tronco de beneficência de R$ 10,00 (dez reais) em média ( significa que 10 irmãos contribuíram com R$ 1 ,00 e 10 não conseguiram nem contribuir...).
- Na prática , em condições originais , friamente , todos os 10 que não contribuíram são desnecessários, pois a benemerência é um dever declarado do maçom. Mas a benemerência é também do maçom que PODE mais , atendendo o maçom que agora não está podendo , por seu acidentais motivos de vida.
16) - Quando, como Chanceleres, não dão importância aos natalícios dos Irmãos, cunhadas, sobrinhos e de outras Lojas. Quando, em desacordo com as leis, adulteram as presenças, beneficiam Irmãos que faltam e não merecem esse obséquio.
17) - Quando a Instituição programa uma Sessão Magna Pública para homenagear alguém ou alguma entidade pública ou privada, constata-se a presença de um número irrisório de Irmãos, dando aos profanos uma visão negativa da Loja, da Potência e da Ordem, deixando constrangidos aqueles que se dedicaram e se esforçaram para realizar o evento à altura da Maçonaria. Todos esses Irmãos indiferentes, que não comparecem habitualmente a essas sessões, também são desnecessários à nossa Ordem.
18) - Muito mais haveria para se dizer em relação aos Irmãos desinteressados da nossa Sublime Instituição. Fiquemos por aqui e imploremos ao Grande Arquiteto do Universo que ilumine cada um de nós, pra que possamos agir na Maçonaria com o verdadeiro Espírito Maçônico e não com o espírito profano..

-Roguemos ainda, que em nenhuma circunstância, seja na família, no trabalho, na sociedade ou na Arte Real, tornemo-nos desnecessários, pois deve ser muito triste e frustrante para qualquer um sentir-se sem importância e sem utilidade no meio em que se vive.
Fonte de Consulta: Transcrito da revista O Delta
Outubro de 2011

terça-feira, 4 de setembro de 2012

O Templário e Saladino - Emocionante narrativa



Deitado em seus aposentos, localizados bem próximos a base da muralha, olhava fixamente para o teto de pedra finamente decorado com afrescos retratando os santos martirizados rodeados por arabescos complexamente desenhados e com cores berrantes. Desde sua infância, quando ouvia as histórias contadas pelos mais velhos ao narrarem os feitos heroicos deles e de seus companheiros de batalha, desejava estar ali.

Comandar aquela guarnição era o ápice de uma carreira militar firmemente assentada no sacrifício, na devoção, na coragem, na destreza em combate – provada em muitas batalhas – e na fé religiosa inabalável.

Como o comandante mais novo de todo o contingente templário, algo o assustava mais do que qualquer combate: justamente essa sua fé inabalável, que o trouxera até ali, se esmaecia a cada dia em que mergulhava naquela carnificina sem sentido e na coleção de mentiras na qual se transformara aquela Cruzada.

Mesmo tendo jurado obediência aos desígnios de seus superiores e do Papa, não podia deixar de se perguntar se o Cristo se aprazia realmente com aqueles massacres e com toda a fúria e ódio que ele presenciara.

Somente ali, no silêncio e na penumbra de seu quarto, podia se permitir duvidar de sua fé, de sua honra e de suas habilidades como guerreiro e líder. Mas, mesmo sendo o mais vitorioso de todos os combatentes templários, imaginava quais os motivos reais estariam por trás de tantas mortes e tanta dor.

No fundo de seu coração, a ideia de poder ter sua alma condenada ao fogo do inferno por um capricho de outros o atormentava cada vez mais frequentemente.

Tudo o que ele ouvira enquanto treinava para estar ali, as histórias de heroísmo e abnegação e a moralidade inabalável de seus superiores haviam se convertido em um monte de mentiras. As violências, os massacres, a falta de respeito com os derrotados e com os mortos e a selvageria incivilizada constantemente atribuída aos sarracenos nunca foi provada em batalha. Muito pelo contrário, toda a violência sem sentido, as violações dos princípios morais da guerra e os massacres mais hediondos eram cometidos sempre pelos Cruzados. Como dizer então que eles estavam ali cumprindo a vontade de Deus?

Perdido nesses pensamentos, que lhe garantiriam uma morte lenta e torturante se viessem à tona, nem percebeu o alvoroço que começava a se formar no pátio da fortaleza. Absorto em seus próprios problemas e consumido pela culpa, o guerreiro honrado e poderoso sentia-se derrotado e acovardado pela culpa e pelas incertezas. Sua consciência atormentava sua alma e os pensamentos sombrios há muito não permitiam que descansasse em paz como devia.

De repente, um enorme estrondo seguido por um tremor tão intenso que fez toda a grossa muralha parecer oscilar por um instante percorreu cada canto da fortaleza e despertou o guerreiro de sua letargia. Uma confusão crescente, recheada de gritos, do som de armas se enfrentando e de urros de dor; levou ao jovem comandante a inequívoca mensagem de que uma nova batalha se iniciava. Vestiu sua armadura, com a ajuda de seu fiel servo, e abandonou seus aposentos indo em direção ao pátio da fortaleza.

Chegando lá, percebeu num simples relance que a batalha já estava perdida. O estrondo ouvido e o tremor sentido nada mais eram do que o fruto do trabalho dos sapadores sarracenos. Usando as mesmas técnicas que ele vira em outras batalhas, os soldados haviam solapado – sem que ninguém desse conta disso – as fundações de parte da muralha e causado o seu desabamento. Pelo enorme buraco formado, uma horda de sarracenos invadiu a fortaleza como uma onda humana sem fim.

De onde estava, o guerreiro sabia que a pequena guarnição estava condenada e seria subjugada em pouco tempo. Chamou seus servos e ordenou-lhes que abandonassem a fortaleza pelo túnel cavado atrás da pequena capela e levassem com eles os feridos e os que mais quisessem.

Olhou em volta, enquanto subia no cavalo, feliz por finalmente seu sofrimento terminar (em breve estaria diante de Deus e saberia se seus atos eram verdadeiramente honrados ou não). Com uma oração, partiu a galope para o meio da confusão mortal que já tomava conta do pátio da fortaleza.

Saltou sobre as frágeis barricadas erguidas pelos seus companheiros combatente a pé e afundou num enorme mar de homens irados, lanças, espadas e escudos que se enfrentavam ferozmente. Desaparecendo no caos da batalha, seu cavalo foi mortalmente atingido por uma lança sarracena e o derrubou da cela.

Combatendo desmontado, aos poucos fez abrir uma clareira havia mergulhado na horda sarracena, por trás das barricadas seus comandados assistiam com um misto de terror, orgulho e admiração a destreza em combate do líder fazendo cair por terra os corpos agonizantes e destroçados de seus inimigos. Mesmo com toda confusão do calor do combate, os defensores sentiam uma certa paz de espírito ao se defrontarem com a morte certa sabendo que seu comandante mostrava-se tão obstinado quanto heroico.
Num determinado momento, ouviu-se um grito tão alto que sobrepujou todo aquele ruído de metal se chocando; urros de dor dos feridos e moribundos e o som agourento dos lamentos dos covardes. Parte da horda sarracena recuou e postou-se em fileiras a frente do enorme buraco feito na muralha.

Corpos mutilados, de ambos os lados, jaziam em toda parte, formando montes de carne, entranhas e ossos expostos que exalavam aquele terrível cheio de sangue e do conteúdos das tripas rasgadas dos feridos. De pé, bem no centro de um desses montes, o cavaleiro templário fincou o pé no chão enlameado pela mistura de pó, sangue e dejetos.

Ofegante, olhou a sua volta. As barricadas, já rompidas, estavam repletas de corpos e uma pequena fração da sua guarnição estava encurralada pouco atrás de onde ele estava. Simplesmente não imaginava por quais motivos o ataque sarraceno se detivera. A vitória era clara e definitiva.

Foi quando ele ergueu os olhos para a figura imponente, trajada com a riqueza de um nobre e montada em um cavalo tão negro que parecia exibir um brilho azulado como uma leve aura mágica.

Parado a poucos metros dele, o homem no cavalo sorriu e cumprimentou o jovem templário – usando palavras que ele podia compreender – pela sua destreza em combate e pela sua enorme coragem.

Falava com uma sinceridade cativante e uma serenidade própria dos homens que já viveram muito e aprenderam mais ainda com a dureza da vida. Perguntou seu nome e o jovem templário respondeu sem baixar seu escudo e sua espada.

O nobre sarraceno, sorriu mais uma vez – como um pai faria diante de um filho querido – e gritou, anunciado o nome do jovem, para que todos pudessem ouvir.

Um murmurinho percorreu a multidão de sarracenos. Olhares assustados e admirados eram trocados, ao mesmo tempo que gritos de guerra e evocações a Alá estouravam aqui e ali. Acuados num canto do pátio, o pequeno grupo de cruzados sobreviventes, não conseguia compreender o que estava acontecendo e já imaginavam se seriam queimados vivos ou torturados até a morte pela horda que gritava enfurecida e se agitava cada vez mais.

O nobre ergueu sua mão e todas as vozes se calaram ao mesmo tempo. Um silencio respeitoso tomou conta da velha fortaleza e só a voz grave e potente dele era ouvida:
- “Sua honra, sabedoria, humildade e respeito aos vencidos é conhecida de seus inimigos. Sua queda em combate seria uma grande honraria para mim ou qualquer um de meus homens. Mas, em respeito a tudo em que acredito e ao seu comportamento, sempre magnânimo, com meus irmãos derrotados por você; eu permitirei que deixe a fortaleza com vida, juntamente com o que restou dos seus soldados. Basta, para isso, que derrote meu campeão em um combate justo”.

O jovem templário, ofegante e coberto de sangue, sabia que talvez não tivesse mais forças para combater um soldado descansado e bem treinado. Mas, como aquela era a única chance de seus homens e dele mesmo; aceitou o desafio do nobre. Gritou, o mais alto que pode, que estava pronto.

A horda sarracena gritou em uníssono e começou a bater nos escudos enlouquecida pela antevisão do espetáculo. De trás das fileiras, que agora cercavam todo o interior da fortaleza e se tornaram quase num aglomerado compacto de corpos, escudos e espadas, surgiu um enorme sarraceno com a pele coberta por cicatrizes, braços extremamente fortes e pernas que pareciam dois pilares de construção.

Em seus olhos o templário podia ver o ódio inflamado e o desdém que o inimigo sentia. Sem se acovardar, postou-se em posição de combate e chamou o seu oponente enfurecido para a luta.

A espada do campeão sarraceno brilhou no ar e encheu todo o lugar com o um som metálico ao encontrar a do templário que aparou o golpe. Os urros e gemidos de ambos os combatentes eram os únicos sons ouvidos naquela cena, além do bater do aço e o encontrar de escudos.

O combate se prolongou por vários minutos e ambos já mostravam sinais de cansaço. O jovem templário estava em pior estado e sentia, cada vez mais, a dureza e a força dos golpes de seu oponente. Uma dor terrível percorria seu corpo e reverberava em cada fibra muscular como um enorme tambor. Sua cabeça pulsava, como se fosse prensada por dezenas de tenazes. Seus olhos eram encobertos pelo suor e sua visão ficava embaçada pelo enorme esforço de defender-se dos golpes constantes e arrasadores.

Num deslize do jovem templário, provocado pelo cansaço do combate e pelas dores atrozes, a espada sarracena atingiu-lhe o braço, sobre a cota de malha, derrubando-o. O sangue corria pelo ferimento aberto e seu braço pendia inutilizado. Agora, o fim estava próximo – pensou o templário – sem poder usar o escudo, seria questão de pouco tempo até o golpe fatal.

Diante da plateia que assistia a tudo com a respiração contida, metade delirante e metade estarrecida, o sarraceno acertou um golpe de sorte que fez a espada do jovem templário voar para longe. No mesmo instante, um único pensamento surgiu na mente do jovem guerreiro: “é o fim”. Exaurido pelo combate, ferido gravemente e sangrando muito; caiu de joelhos e ergueu a cabeça para aguardar o golpe final.

O campeão sarraceno aproximou-se – embalado pelos gritos vitoriosos da horda enlouquecida – ergueu sua espada e, com toda força, desferiu um golpe mortal visando o pescoço do jovem templário. A lâmina reluziu ao sol; desceu velozmente e – diante da multidão incrédula – parou no ar a poucos milímetros da garganta do templário caído.

O sarraceno, sem compreender o ocorrido, colocou toda a sua força na lâmina pressionando-a contra a garganta do jovem e, mesmo assim, a espada não fazia mais, golpe após golpe, do que deter-se antes de tocar o homem.

Aos gritos de feitiçaria e confusos pelo ocorrido, dois outros soldados sarracenos atiraram flechas em direção ao corpo do guerreiro ferido. O nobre, ao perceber o ocorrido e furioso pelo comportamento desonroso dos seus, fez um gesto e ambos foram mortos imediatamente por seus próprios colegas. Simultaneamente, as flechas atiradas contra o jovem ajoelhado naquele pátio interromperam seu voo como se fossem detidas por mãos invisíveis.

Os sarracenos recuaram assustados e, sem saber o que estava acontecendo, ficaram aguardando as ordens do nobre.

Este, com os olhos marejados pelas lágrimas desceu de seu magnífico cavalo e, aproximou-se do guerreiro ainda caído.

Carinhosamente, abraçou o jovem, o ergueu do chão e colocou as rédeas do magnífico cavalo em suas mãos. Ao se voltar para partir, o nobre disse:

- “Eu sou Salah al-Din Yusuf ibn Ayub.
-  Vocês me conhecem como Saladino. Aquilo que presenciamos aqui hoje é mostra de que Alá protege o justo, o misericordioso e o honrado. Se Ele não deseja a sua morte, quem sou eu para ir contra a Sua vontade. Vá em paz, irmão, e que Alá guie seus dias e olhe pelo seu regresso ao lar e para junto dos que ama”.

Dizendo isso, deu as costas para o jovem incrédulo e, montando em outro cavalo, retirou-se rapidamente com toda a horda sarracena.

Os soldados correram para ajudar o jovem templário e o colocaram junto a sombra de uma enorme tamareira. Ao removerem seu elmo, perceberam que ele chorava. Sua mente era tomada por pensamentos conflitantes que o tragavam para um redemoinho de emoções.


Deus salvou a sua vida e, no mesmo golpe, mostrou que os homens – mesmo quando rezam para um Deus diferente – podem ser justos, bons, e honrados.

Ainda havia esperança para sua alma e, imediatamente percebeu que jamais esqueceria daquele nobre sarraceno que trouxera a luz de volta a sua vida e a paz a sua alma.

fonte - contos ancestrais

Arthurius Maximus

domingo, 2 de setembro de 2012

DERRUBANDO MITOS-Grande Loja Unida da Inglaterra

VATICANO MAÇÔNICO
     Para muitos maçons mal informados, a Grande Loja Unida da Inglaterra        exerce função de “xerife” do mundo maçônico, sendo a legítima guardiã da regularidade maçônica, devendo ditar as regras a serem seguidas pelas demais Potências Maçônicas.

Para esses, se a Maçonaria fosse uma religião, a GLUI seria uma espécie de Vaticano Maçônico. É importante esclarecer que a GLUI não tem essa autoridade e que isso é totalmente contrário a todos os princípios maçônicos de autonomia, soberania e igualdade entre Obediências.

A quase submissão das Grandes Lojas da Escócia, Irlanda, Índia e de algumas Grandes Lojas da Austrália e Canadá é até tolerável, considerando terem esses países pertencido ao Império Britânico e a GLUI ter sido a provedora de tais Grandes Lojas.

Porém, a submissão presenciada por outras Obediências no restante do mundo, e até mesmo no Brasil, é inaceitável e demonstra que o “complexo de vira-lata” alcança até as fileiras maçônicas.

Para quem não está familiarizado com o termo, o complexo de vira-lata é uma expressão de autoria de Nelson Rodrigues para se referir à inferioridade e submissão que muitas vezes o brasileiro se impõe voluntariamente. E, infelizmente, essa postura foi historicamente institucionalizada na Maçonaria brasileira em relação à Inglaterra.

O desavisado que visitar a Maçonaria Regular nos chamados países desenvolvidos descobrirá que essa idolatria à GLUI não é compartilhada pelos mesmos. Muito pelo contrário: verdade é que a GLUI não faz parte da vanguarda maçônica, seguindo várias vezes a tendência impulsionada por outras Grandes Lojas, quase que pressionada pelas mesmas a sair da inércia.

Antes de elevar a GLUI ao posto de “rainha do mundo maçônico”, posto esse que os britânicos já estão familiarizados pelo modelo de Estado, reflita um pouco sobre isso: A Maçonaria está diretamente ligada ao princípio de Liberdade, considerado direito natural dos homens. E enquanto o mundo ocidental ainda experimentava o gosto amargo das monarquias absolutistas, a Maçonaria já sentia o doce sabor da democracia em suas Lojas e Grandes Lojas.

Sendo precursora dos ideais libertários e democráticos, a Maçonaria participou ativamente e de forma determinante da Revolução Francesa e da libertação de praticamente todos os países do continente americano. Atualmente, até mesmo em países como Cuba, que vive uma Ditadura Castrista há mais de 50 anos, a Maçonaria mantém intacta a chama da democracia em seu interior, elegendo periodicamente seu Grão-Mestre.

No entanto, eu pergunto:
Qual é a única Grande Loja do mundo que traiu esse princípio de democracia, tirando do povo maçônico o direito sagrado de escolher entre os seus membros um Grão-Mestre?
Resposta: A Grande Loja Unida da Inglaterra.

O Príncipe Eduardo, Duque de Kent, é Grão-Mestre da GLUI desde 1967, ou seja, uma “ditadura maçônica” que dura 45 anos.

Alguns podem questionar essa afirmação, dizendo que ele é constantemente “reeleito”. Porém, não devemos nos esquecer que Fidel Castro também era. Ambos, por motivos óbvios, sempre foram candidatos únicos.

Se a Maçonaria Regular Mundial acha por bem tolerar tal situação proveniente da GLUI, entendendo que é uma questão de cultura dos maçons ingleses que, assim como os cidadãos daquele país, ainda se sujeitam em dividir os homens (e os maçons) entre nobres e plebeus, e favorecer esse primeiro grupo em detrimento do segundo, isso é fraternalmente compreensível. Afinal de contas, a tolerância é um dos belos ensinamentos transmitidos pela Maçonaria.

Mas que fique claro ao Maçom que lê estas palavras:

A Grande Loja Unida da Inglaterra não é um modelo a ser seguido, quanto mais uma autoridade a ser obedecida.

Fonte: Jornal do Aprendiz
Publicado pela ARLS AMPARO DA VIRTUDE 0276-GOB-PE
14-02-2012

sábado, 1 de setembro de 2012

Maçonaria não é o que dizem



Embora tenha seus segredos, 
entidade não é uma sociedade secreta.
fonte: midia News

Dia 20 de agosto comemora- se o Dia do Maçom, esse grande construtor social.

Fala-se muito sobre a Maçonaria. Uns poucos falam mal, mas a maioria fala bem. Esses poucos que falam mal, olham a instituição com um certo grau de desconfiança. Dizem até que é uma seita, outros alegam, que trata-se de bruxaria, que é uma sociedade secreta, que não acredita em um ‘Ser Superior‘.

Fala-se que a Igreja Católica ainda combate a Maçonaria e discrimina os maçons e seus familiares.

A verdade é que fala-se pouco sobre a verdadeira história da Maçonaria. Sobre a sua fundamental contribuição para o desenvolvimento político e social da humanidade e para a liberdade dos indivíduos e das nações.

Fala-se pouco sobre o seu trabalho, tendo como lema a liberdade, a igualdade e a fraternidade. Muitos criticam a maçonaria, porém confessam que nunca leram nada sobre essa valorosa e inigualável organização. Criticam por ouvir dizer,  assim é a Maçonaria.

Os néscios que não a conhecem, preferem difamá-la e se recusam a reconhecer os inúmeros bens que ela faz, e os seus grandes feitos.

A Maçonaria sempre foi atacada e sempre procurou manter silêncio, sem polemizar. Mas é oportuno esclarecer que a maçonaria não está mais excomungada e muito menos os maçons.

O Código de Direito Canônico, atualmente em vigor, pelo Cânon 1.374 retirou a ‘excomunhão automática‘. Por isso, pode o maçom ser cristão livremente.

Não é verdade que a igreja atual combate a Maçonaria. Não há incompatibilidade entre a Maçonaria e a fé cristã.

A excomunhão foi um problema político e nunca religioso. A Maçonaria congrega em seu seio membros de todas as religiões, desde que acreditem em Deus, pois este é o princípio do saber.

Outro questionamento é: por que as mulheres não podem fazer parte da maçonaria?

Realmente, a maçonaria não tem nos seus quadros, mulheres como membros. Mas isso não significa preconceito contra elas.

A resposta está nas palavras de Salomão, o idealizador da maçonaria; e o homem mais sábio da Terra: ‘Toda mulher sábia edifica a sua casa, mas a tola derruba-a com suas mãos’(Provérbio 14.1), e foi além: ‘Quem encontra uma esposa, encontra a felicidade, e alcança a benevolência do Senhor‘ (Provérbio 18:22).

Na construção do Templo de Salomão, em que pese ao alto conceito que o Rei fazia da mulher, elas não foram recrutadas para trabalharem naquela edificação, por ser um serviço totalmente impróprio.

Tanto é verdade  que,  até hoje raramente se encontra uma mulher que tenha como profissão o trabalho  de pedreiro. À mulher é dada a palavra final ao candidato à maçonaria, pois necessita do aval de
sua esposa, e se solteiro, da autorização de sua mãe.

A família é a célula-mater da sociedade e este conceito é reconhecido por toda a maçonaria.

Por isso, a Maçonaria, que é uma instituição muito tradicional e conservadora, guarda aquela tradição milenar até hoje, tal como nos primórdios, e não tem mulheres em seus quadros, como membros.


Não é uma sociedade secreta, pois tem seus estatutos publicados e registrados em cartórios públicos, a loja maçônica é sempre em endereço conhecido, com placa identificadora e os maçons são conhecidos.

Embora tenha seus segredos, como qualquer outra entidade, e não poderia ser diferente, está longe de ser rotulada como uma sociedade secreta.

Mas hoje, como se comemora o Dia do Maçom, não poderíamos deixar de exaltar alguns dos maiores feitos, onde a maçonaria teve papel fundamental, como por exemplo: na Independência do Brasil; na Abolição da Escravatura; e na Proclamação da República.

O verdadeiro maçom é aquele que pratica o bem e leva a sua solidariedade aos infelizes.

O verdadeiro maçom repele o egoísmo e a imoralidade, pois um adepto dessa Arte Real se dedica plenamente à felicidade de seus semelhantes, não porque a razão ou a justiça lhes imponha esse dever, mas porque esse sentimento de solidariedade é inato que o fez filho de Deus e irmão de todos os homens cumpridores da Lei do Amor Universal.

A Maçonaria é perfeita, imperfeitos são alguns dos seus obreiros.

Parabéns, portanto, neste ‘Dia do Maçom’, e nossas justas homenagens a todos os Obreiros da Arte Real.

OTACÍLIO PERON é advogado em Mato Grosso.

20 de agosto de 2012